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Saiba quem foi o único presidente negro do Brasil

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O presidente Afonso Pena (1847-1909) foi o sexto presidente da República do Brasil. Ele faleceu no terceiro ano de seu mandato. Então, o vice: o político e advogado Nilo Peçanha (1867-1924) passou a chefiar a nação. Ele foi considerado o primeiro presidente negro da história brasileira.

“Rigorosamente, ele era um mestiço”, define à BBC News Brasil o historiador Petrônio Domingues, professor na UFS (Universidade Federal de Sergipe), lembrando que pelas categorias oficialmente utilizadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ele seria classificado como pardo.

“Isso não era uma questão [naquela época]. A começar porque ele não se reconhecia como um afrodescendente. Segundo porque ele até foi alvo de charges e pilhérias racializadas por parte da imprensa, mas socialmente ele não era visto nem tratado pelas lentes do racismo que ousava dizer o seu nome na Primeira República”, acrescenta o professor.

Para o historiador Vitor Soares, que mantém o podcast História em Meia Hora, é preciso ressaltar que Peçanha governou o país “em um período profundamente marcado pelo racismo científico”. “Doutrinas como a frenologia e a eugenia ganhavam força no país, legitimando teorias que buscavam justificar a marginalização de pessoas negras e mestiças”, diz ele à BBC News Brasil.

“Descrito como mulato por seus contemporâneos, Peçanha tornou-se alvo constante de ridicularizações. Na imprensa, era caricaturado em charges e anedotas que enfatizavam sua cor de pele de maneira depreciativa. Durante sua juventude, era chamado pejorativamente de ‘o mestiço do Morro do Coco’, em referência ao pequeno distrito rural de suas origens”, acrescenta Soares. “Esses ataques refletem o racismo estrutural da sociedade brasileira, que via na ascensão de um homem mestiço ao poder uma ameaça à hierarquia racial estabelecida.”

“Ele foi de plena época em que o processo de racialização das relações estava em curso. Mas também uma época em que se apostava ou se tinha a expectativa da ascensão do mulato e, quiçá, da extinção do preto”, explica à BBC News Brasil a historiadora Lucimar Felisberto dos Santos, membro da Rede de Historiadorxs Negrxs e autora de “Entre a Escravidão e a Liberdade: africanos e crioulos nos tempos da Abolição”, entre outros.

A historiadora conta que “se apostava no mestiço para conduzir o embranquecimento da sociedade brasileira”. “Nilo Peçanha era criticado como ‘mulato’, termo usado de forma pejorativa, e não havia uma perspectiva de elevação de seu caráter, da sua importância, da sua representatividade enquanto pardo ou negro”, analisa à BBC News Brasil o historiador Victor Missiato, pesquisador do Grupo Intelectuais e Política nas Américas, da Unesp (Universidade Estadual Paulista). “Não havia isso na época”, resume o historiador em entrevista publicada pela Folha de São Paulo.

Foto: Reprodução/Wikipédia
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