Seis bilhões de reais. É difícil até de imaginar essa montanha de dinheiro. Mas foi algo assim que simplesmente… sumiu. Evaporou da conta de 4 milhões de aposentados e pensionistas pelo Brasil. E a pergunta que fica martelando é: como? Como um rombo desse tamanho acontece bem debaixo das barbas do sistema que deveria proteger essa gente?
A gente soube que a ponta desse iceberg começou a aparecer por causa de uma senhora. Uma aposentada. Lá de Feira de Santana. Uma pessoa que, vendo o dinheiro suado sumir em descontos estranhos, teve a teimosia (bendita teimosia!) de não aceitar um “é assim mesmo” como resposta. Foi preciso ela bater o pé no Ministério Público, insistir feito louca, para que alguém começasse a farejar o rastro da sujeira.
E o que acharam? O básico do crime de colarinho branco: associações de mentirinha, sediadas lá em Sergipe – uma delas na capital, Aracaju – brotando do nada com assinaturas mais falsas que nota de três reais, só para poderem meter a mão no benefício alheio, mês após mês. A Polícia Federal até confirmou a farsa. O delegado Carlos César Pereira de Melo, da PF em Sergipe, foi claro sobre as assinaturas falsificadas. Ótimo. Mas isso resolve?
Não. Isso escancara uma verdade incômoda: a fragilidade absurda dos nossos sistemas. Que tipo de controle permite que documentos forjados liberem descontos automáticos em 4 MILHÕES de contas? Que segurança é essa? Parece piada de mau gosto.
Não adianta só apontar o dedo para os bandidos óbvios, os que criaram as associações fantasmas. A questão é mais funda. Quem permitiu essa brecha? Onde estavam as auditorias? A validação? A tecnologia que deveria barrar fraudes tão primárias? O sistema falhou. Feio. E quem paga o pato, como sempre, é o lado mais fraco.
Aplaudir a investigação que descobriu o esquema é necessário, claro. Mas é pouco. Exigir respostas, cobrar mudanças reais nos processos de verificação do INSS e das consignatárias, isso sim é urgente. Porque enquanto o sistema for essa peneira, nossos idosos continuarão sendo alvo fácil.
E a aposentada de Feira? Heroína, sim. Mas não deveria precisar ser. Num país sério, ela estaria descansando, não lutando contra um monstro burocrático para reaver o que é seu e, sem querer, expor a incompetência que custou bilhões. Fica a lição amarga e a pergunta no ar: até quando nossos aposentados estarão tão desprotegidos?