FEIRA QUE VIVI - XV

Foto: Divulgação

A luta pela redemocratização do país foi promovida por vários segmentos da sociedade, desde a forma mais pacífica, explorando as oportunidades que as leis de exceção permitiam (MDB) às ações de oposição radical da guerrilha urbana e rural (ALN, VPR, PCdoB, AP, Polop, etc.), passando por grupos menos aguerridos, mas que desgastavam o regime, gerando reações violentas.

E incomodavam pelas repercussões junto à Igreja Católica e à comunidade internacional.

Os anos mais conturbados foram de 68 a 74, compreendendo os governos Costa e Silva, Junta Militar e Médici - os anos de chumbo. Foram também os de ações mais ousadas da guerrilha e de violência repressiva, fenômenos que se repetiam no Cone Sul (Chile, Argentina e Uruguai), com o respaldo dos EE.UU.

E, consequentemente, os de maior número de vítimas, nas cidades e no campo.

No âmbito estritamente político-eleitoral, os órgãos militares vetavam candidatos a prefeito e até nomenclaturas de artérias públicas. Os governadores eram escolhidos indiretamente pelos deputados, após serem indicados pelo governo central. Em Feira, o partido foi avisado por militares, em 1970 e 1972 (houve duas eleições), de que não aceitariam a candidatura de certo vereador a prefeito – o presidente do MDB; e no governo de José Falcão, a partir de 1973, a avenida do Contorno que o prefeito pretendia denominar de avenida Francisco Pinto teve sua denominação substituída por um nome aceitável, que foi o de Eduardo Fróes da Mota.

José Falcão não despertava desconfiava ao sistema pelas suas antigas vinculações com o integralismo, partido do qual foi membro e foi candidato a deputado estadual (PRP), em 1962. Figuras exponenciais do partido, fundado por Plínio Salgado foram homens de proa do movimento de 64.

Em 1970, Francisco Pinto já liberado foi eleito deputado federal, mas foi cassado e preso no final de seu mandato, por seu discurso contra Pinochet, quando o ditador chileno esteve no Brasil. E fechada a Rádio Cultura de Feira, de Oscar Tabaréu por haver transmitido partes do discurso.

Em 1974, foram eleitos para a Assembleia Legislativa Roque Aras e para a Câmara Federal Noide Cerqueira, no impedimento de Chico Pinto.

Nesse ano, o Alto Comando das Forças Armadas, tendo de escolher o novo presidente, optou pelo general Ernesto Geisel graças ao prestígio de seu irmão também general, Orlando Geisel. Ambos eram rejeitados pela 'linha dura', forte corrente militar cujo líder era o General Silvio Frota do 1° Exército (RJ) que desejava o endurecimento do regime.

Geisel começou a distensão enfrentando a resistência interna, além de Silvio Frota, do comandante do 2° Exército (SP), General Ednardo d’Ávila que perdeu o comando depois das mortes de Herzog e Manoel Fiel em seu quartel. Foi momento de tensão nacional.

Contando com seu colega e conselheiro Golbery do Couto, Geisel decidiu levar a cabo a denominada por ele distensão lenta, gradual e segura do regime, valendo-se do senador Petrônio Portela (PI) para iniciar conversas com Thales Ramalho (sec.-geral do MDB), da ala moderada. Este em contacto com Ulisses Guimarães (presidente do MDB), líder Freitas Nobre e outros dirigentes nacionais comandaram o processo de distensão interna, procurando convencer grupos mais agressivos dentro do MDB a apoiarem a proposta, principalmente deputados simpatizantes do PCdoB que a rejeitavam e votaram contra o projeto.

O trabalho de Geisel, Golbery e Petrônio junto com o MDB resultou na Lei de Anistia recíproca, que foi aprovado em 1979, propiciando o regresso dos exilados.

Para diluir o prestígio dos comunistas e isolar Brizola, rejeitados pelos militares, Golbery facilitou a criação do PT (para atrair a classe operária) e entregou o PTB dos trabalhistas, a sua amiga Ivete Vargas, isolando Brizola, herdeiro de Vargas e de Jango, que teve de se contentar com a sigla PDT, proposta por Waldir Pires.

A partir de 1979, representaram Feira de Santana, na Câmara Federal, os deputados Chico Pinto e Roque Aras, com votação em todo o Estado, aquele pelo seu inegável prestígio nacional, este por haver implantado o MDB em todos os municípios da Bahia.

Assim, Feira de Santana participou diretamente do processo de abertura política brasileira, que culminou com Tancredo Neves dando o retoque final para o fim do regime autoritário, o que aconteceria em seguida, na sucessão de Figueiredo.


Por: Pedro Cleto 

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