FEIRA QUE VIVI - XIII

Foto: Divulgação

Em Feira, logo após a prisão de Chico Pinto, elementos que no passado tinham tido algum vínculo com o Exército, como o capitão da reserva Arlindo e o CPOR Arnaldo, surgiram como representantes da revolução.

Conseguiram com o Prefeito a kombi que fora doada ao Centro Popular de Cultura de São Paulo para a alfabetização de adultos, e com alguns conscritos do Tiro de Guerra passaram a fazer diligências na alegada vigilância do processo revolucionário.

Entre suas cabulosas iniciativas, esteve a detenção do juiz da Justiça do Trabalho de Feira que foi conduzido ao Setor de Inteligência da 6ª. Região Militar, em Salvador, para que ele justificasse as sentenças proferidas contra comerciantes e fazendeiros nas questões trabalhistas... Tal tipo de investigação estapafúrdia era comum, ficando conhecida a que foi submetida o arquiteto Oscar Niemayer sobre a origem de seu patrimônio e a resposta jocosa que foi dada: 'dando ...'

Meses depois, o Exército deslocou batalhão aquartelado em Arapiraca para Feira, o qual ocupou o armazém de fumo, de Galeno Fraga, situado na esquina da Castro Alves com Geminiano Costa. Nesse armazém era utilizada máquina de escrever para tomar depoimentos, e antiga prensa de enfardar fumo em folha, para “pressionar” (literalmente) opositores. O trabalho do tenente inquiridor tanto era de promover interrogatórios, como de 'prensar' ou imprensar supostos comunistas em busca de informações... Sinval, entre outros, que diga a sensação de ser espremido entre duas pesadas e esmagadoras pranchas de madeira...

Mas, a Feira teve outras excentricidades nessa era de incertezas e terror, o temível 'capelão' da Polícia Militar, com patente de capitão, fugidio do regime comunista polonês, que fora acolhido na Polícia baiana, e que interferia até nos costumes dos jovens. E delegado regional, oficial da PM, que fechava estabelecimentos comerciais, até restaurantes se algum vizinho se sentisse incomodado. Que o diga Ana da Maniçoba... A Ana do Mercado e do Cantinho da Paz, que teve salvo seu negócio pelo presidente do MDB local, que impetrou mandado de segurança. Felizmente, Feira teve juízos destemidos, como José Ribeiro no auge da repressão e Jarbas Pedreira que o sucedeu.
Em março de 1966, organizaram-se dois partidos políticos, por concessão do governo, um para os apoiadores do governo (a Arena) e outro para os opositores (o MDB), embora proibida a discussão de temas políticos sensíveis, sob pena de enquadramento na lei de segurança nacional.

O MDB foi formado pelo irrequieto Oscar Tabaréu. Teve dificuldades de conseguir a filiação de sessenta pessoas ao partido a fim de apresentar candidatos a vereador na eleição daquele ano. Procurando um a um os antigos liderados de Chico Pinto, teve dificuldades de os encontrar... Mas, conseguiu na última hora. 

Sob a égide do bipartidarismo, na eleição para prefeito, João Durval (Arena) ganhou bem para prefeito do emedebista Antônio Araújo. Nesse pleito ficou bem definido o poderio eleitoral do interior do município, pois a oposição elegeu apenas um vereador, Theódulo Bastos (em razão do prestígio de seu pai, grande fazendeiro e médico da Vila de Bomfim), e a Arena todos os outros quatorze. E na eleição seguinte em 1970, ganha pelo prefeito Newton Falcão (Arena), que disputou com José Falcão, não havia nenhum vereador do MDB representando os distritos.

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