A cobertura das vacinas do calendário infantil disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) vem crescendo nos últimos dois anos. Em 2024, 12 das 16 vacinas já ultrapassaram o percentual do ano passado e três imunizantes já atingiram a meta de cobertura.
A cobertura da BCG, que previne tuberculose, está em 91,73% (a meta é de 90%)
A cobertura da 1ª dose da tríplice viral, que previne sarampo, caxumba e rubéola, está em 95,69% (a meta é de 95%)
A cobertura da polio oral, a gotinha que previne contra a poliomielite, está em 95,58% (a meta é de 95%)
Os dados estão no painel do Ministério da Saúde que traz as doses aplicadas até 30 de novembro.
O órgão também fez uma comparação da cobertura deste ano com 2022, no governo Bolsonaro. Segundo o órgão, houve um aumento médio de 17 pontos percentuais, com 15 das 16 vacinas registrando um crescimento.
“Estamos felizes não apenas pelo crescimento de 15 das 16 vacinas infantis, como também por já termos superado as metas em três delas: na BCG, no reforço da pólio e na primeira dose de tríplice viral”, destaca Nísia Trindade, ministra da Saúde.
Segundo Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), o Brasil não atingia a meta de cobertura de vacinas como a da polio e a tríplice viral desde 2015-2016, quando o país começou a registrar uma queda na procura por imunizantes.
“Vínhamos em uma tendência de queda e a pandemia aumentou isso. Estamos quase 10 anos com meta abaixo para as vacinas. Interrompemos a queda em 2022, crescemos em 2023 e crescemos ainda mais em 2024”, diz o infectologista.
Celso Granato, infectologista e diretor clínico do Grupo Fleury, comenta que o fato da eficiência da vacinação no Brasil já ter sido tão alta pode ter contribuído para as pessoas acreditarem que não precisam mais vacinar.
“As pessoas passaram a acreditar que talvez não existissem mais essas doenças, que elas estivessem extintas. Mas não adianta você achar que, porque não tem mais aqui [no Brasil], num certo momento ela não vai voltar”, alerta o infectologista.
Assim como Kfouri, Rosana Richtmann, médica infectologista do Instituto Emílio Ribas e diretora do comitê de imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), lembra que altas coberturas vacinais são essenciais para manter um país livre de doenças. O Brasil, inclusive, já eliminou a poliomielite e o sarampo.
“A retomada da vacinação infantil é um passo fundamental para pensarmos em uma sociedade mais saudável”, analisa a infectologista.
“Quando você consegue eliminar uma doença, você tem um número grande de vacinados, o que impede o vírus de circular, mesmo que alguém de fora entre no país com o vírus. Não há quem transmita porque está todo mundo vacinado”, completa Kfouri.
Em novembro, o Brasil interrompeu o uso da vacina de gotinha. A decisão seguiu uma tendência mundial e uma orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS). A VOP, como o imunizante é conhecido, era a dose de reforço, dada aos 15 meses e aos 4 anos. Agora, o esquema vacinal contra a doença será exclusivo com a VIP (injetável).
A poliomielite é a paralisia infantil, uma doença contagiosa aguda causada por vírus que pode infectar crianças e adultos. A vacinação é a única forma de prevenção. Desde 1989, não há notificação de caso de pólio no Brasil, mas as coberturas vacinais contra a doença sofreram quedas sucessivas nos últimos anos.
Também no mês passado, voltamos a ser um país livre de sarampo. Após cinco anos, o Brasil recuperou a certificação perdida em 2019, após surtos da doença.
Em junho, o Brasil completou dois anos sem casos autóctones (com transmissão em território nacional) de sarampo — o último foi confirmado em 5 de junho de 2022, no Amapá. Todos os registros da doença foram de indivíduos que vieram do exterior.
Para cumprir os critérios de recertificação, o Brasil precisou demonstrar que não houve transmissão do vírus do sarampo durante pelo menos um ano, além de ter fortalecido o seu programa de vacinação de rotina, a vigilância epidemiológica e a resposta rápida a casos importados.
O sarampo é uma doença extremamente contagiosa e grave, que pode ser evitada por vacina. Estima-se que uma pessoa infectada pode contaminar outras 12 ou 18 pessoas. A transmissão ocorre por meio das secreções do nariz e da boca expelidas ao tossir, respirar ou falar.
Informações G1