Reconhecido como o maior reformista da Igreja Católica, o Papa Francisco morreu hoje, aos 88 anos. Quando morre um Papa, a tradição do Vaticano para funerais é bastante clara e antiga e segue um guia de 400 páginas chamado “Ritos Funerais do Pontífice de Roma”. Por diretrizes nele estabelecidas em 2000, o enterro do chefe da Igreja Católica deve ocorrer entre quatro e seis dias após a sua morte. Mas o rito foi simplificado pelo próprio Francisco no ano passado.
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A morte do Papa é verificada e oficializada pelo Camerlengo, o administrador de propriedades da Santa Sé — hoje, o cardeal irlandês Kevin Cardinal Farrell. O procedimento cerimonial envolve chamar o Papa pelo nome de batismo três vezes. Sem resposta, a morte é declarada e oficializada à Igreja e ao público geral.
O passo a passo do luto no Vaticano
Morte confirmada na capela privada
Corpo colocado diretamente no caixão
No dia da missa exequial, o corpo é levado à Basílica de São Pedro
Papa é exposto ao público no caixão aberto
Realiza-se a missa exequial com chefes de Estado presentes
Após a missa e a exibição pública, o caixão é fechado e encaminhado para o sepultamento
Durante os nove dias seguintes, ocorrem as missas novendiais em sufrágio ao Papa
Simplificação do ritual funerário papal
Entre abril e novembro do ano passado, Francisco atualizou o “Ordo Exsequiarum Romani Pontificis”, o livro litúrgico que regulamenta o procedimentos funerais do Papa. Entre as principais alterações, a verificação da morte não foi mais realizada no quarto do Papa, mas em uma capela privada. Além disso, diferentemente da tradição anterior, o corpo do pontífice foi depositado diretamente em um caixão após a confirmação do óbito, eliminando etapas intermediárias no processo.
Uma das mudanças mais simbólicas diz respeito ao uso dos caixões. Antes, o Papa era sepultado dentro de três caixões sucessivos — um de cipreste, outro de chumbo e um terceiro de carvalho —, reforçando a proteção e a solenidade do ritual. Agora, essa exigência foi eliminada, e o pontífice será enterrado em um único caixão, feito de madeira e zinco, simplificando o procedimento.
O protocolo para a despedida pública do Papa também foi reformulado. O corpo não será mais exposto em um pedestal elevado, mas diretamente no caixão aberto.
— Francisco decidiu destacar a humildade em vez da glorificação — disse Agostino Paravicini Bagliani, um historiador da Igreja, ao New York Times.
No dia da missa exequial, a cerimônia reunirá chefes de Estado e autoridades na Basílica de São Pedro, antes do caixão ser encaminhado para o sepultamento. As mudanças seguem uma linha de simplificação já vista no funeral de Bento XVI, embora sem a obrigatoriedade de seguir o mesmo modelo.
Outra alteração proposta por Francisco, que parte também de uma vontade pessoal, é a flexibilidade do local do sepultamento. Contrariando a tradição que vem desde 1903, ele será enterrado na Basílica de Santa Maria Maggiore, e não na Basílica de São Pedro. Em entrevista ao site mexicano N+, em 2023, ele explicou que tem forte conexão e devoção pelo local.
Por lá, antes de se tornar Papa, ele rezava em frente à “Salus Populi Romani”, ícone (pintura em madeira) que retrata a Virgem Maria com o menino Jesus. A devoção ao local continua até hoje: é onde reza antes e depois de suas viagens.
— É minha maior devoção. O local já está preparado — afirmou Francisco na entrevista.
A reforma nos procedimentos funerais vieram por iniciativa de Francisco e necessidade após o falecimento de Bento XVI, em 2022, que obrigou a Igreja a realizar o primeiro funeral de um papa emérito em seis séculos. Com essa revisão do ritual, Francisco buscou modernizar e tornar mais acessível a despedida de um pontífice, sem comprometer a dignidade e a solenidade do momento. A edição anterior do livro litúrgico datava de 2000, ainda sob o papado de João Paulo II.
Fonte: O globo