Em entrevista ao Bom Dia Feira, na manhã desta segunda, o ex-candidato a Presidência da República pelo PT lamentou a atual situação da pandemia no Brasil, criticou gestão federal e disse que Dória ‘foi fraco e se recolheu, ao invés de enfrentar’ o preside
O Brasil está enfrentando o pior momento da pandemia do novo
coronavírus, desde o registro do primeiro caso no país em fevereiro de 2020.
Na última sexta-feira (26) a média móvel no Brasil foi de
1.153 óbitos, a maior de toda a pandemia, de acordo com o boletim do Conselho
Nacional de Secretários da Saúde (Conass), sendo o terceiro recorde consecutivo
deste índice no país que já acumula 254.942 mil mortes até agora e 10.551.259 milhões
de infecções.
Enquanto isso, alguns estados e cidades brasileiras tem sistemas
de saúde entrando em colapso e adotam medidas mais rígidas de isolamento, como
lockdowns e toques de recolher, para tentar reverter a alta de casos e
internações.
Em entrevista ao Bom Dia Feira, na manhã desta segunda-feira
(1º), o ex-prefeito de São Paulo (2013 a 2016) e candidato a Presidência da República
em 2018 pelo Partido dos Trabalhadores (PT) Fernando Haddad, definiu a situação
como lamentável e preocupante, e destacou acreditar que a má gestão do governo
federal diante da pandemia pode comprometer todo o esforço mundial para superar
este cenário.
'Vários órgãos internacionais declararam o governo brasileiro como o pior gestor da pandemia até aqui. O primeiro problema de uma pandemia é evitar que ela se alastre e isso o governo federal não fez, não contribui com o comportamento adequado das pessoas para evitar o alastramento da pandemia, isso se faria com distanciamento social, uso de máscara e testagem em massa onde a gente identifica quem está contaminado e isola essa pessoa em casa para que ela não seja vetor de transmissão, o governo não testou e não isolou as pessoas que estavam contaminadas com o vírus, o que colocou o Brasil na segunda posição em número de mortes já em 2020, ou seja, o país só perde para os Estados Unidos, em relação aos óbitos. Segundo lugar, ao não providenciar as vacinas para o povo brasileiro e cortar o auxílio emergencial aprovado pelo Congresso Nacional, as pessoas têm que sair a luta para trazer o pão para a mesa da família e não estão sendo vacinadas, com isso, o maior risco que o Brasil pode trazer hoje é que possa haver uma mutação em virtude do alastramento da pandemia sendo que as vacinas que foram desenvolvidas não sejam capazes de combater. O mundo está olhando para o governo Bolsonaro e eu acredito que ele vai acabar sendo julgado por algum tribunal internacional pela forma que conduziu, se não fossem os governadores, estaríamos em uma situação ainda pior, porque nós temos nos estados brasileiros, sobretudo no Nordeste, com o Consórcio do Nordeste, lideranças que tem feito um contraponto ao Bolsonaro, o que não acontece em outras partes do país, como no Centro Sul do país', afirma.
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, no último dia 23 de fevereiro, autorizar estados e municípios a comprar e a distribuir vacinas contra a Covid-19, caso o governo federal não cumpra o Plano Nacional de Imunização ou caso as doses previstas no documento sejam insuficientes. Para Haddad, liberação do STF é bem-vinda, mas é um paliativo que não resolve totalmente o problema, já que poucos municípios possuem condições de adquirir as vacinas.
'O primeiro erro de Bolsonaro foi ‘desdenhar da vacina’, ele
disse que não iria atrás dos laboratórios e o problema é que temos poucos laboratórios
e muitos países comprando, então quem tem que ir atrás de quem? O presidente não
entende como funciona a pandemia e não entendeu que iria faltar vacina, caso
ele não fosse atras, como faltou. Hoje nós temos pessoas com mais de 80 anos
que ainda não foram vacinadas, tem gente que tem comorbidade, é doente, tem pressão
alta e deveriam já ter sido vacinados. Sobre a liberação, não podemos passar
para a população a impressão de que se um prefeito quiser, ele resolve o problema
porque não é assim que funciona, São Paulo com a força que tem, não consegue
comprar vacina diretamente, há todo um protocolo que precisa ser atendido', ressalta.
De acordo com o político, a pressão que precisa ser feita, no
momento, é em cima do Congresso Nacional.
'Se o Congresso não responder o que está acontecendo, não
fazer nada para pressionar o governo, vamos ter mais quatro meses de crise medonha,
perdendo mais gente, mais empregos e a economia vai demorar mais tempo ainda
para recuperar e o povo vai sofrer mais ainda, já se foi um ano e não sabemos
quando vai se resolver ainda', diz.
Questionado sobre a possibilidade do governador de São Paulo
João Doria ter saído fortalecido depois da atuação para que o Instituto
Butantan produzisse os imunizantes contra a Covid-19 no Brasil e ter sido
pioneiro no início da campanha de imunização, o petista afirma acreditar que Dória
‘foi fraco e se recolheu, ao invés de enfrentar’ o presidente.
'O Butantan existe há anos, no nosso governo, nós
aplicamos no H1N1, 80 milhões de doses em 90 dias, ou seja, quase 1 milhão de
doses por dia, nós sabemos vacinar, se ninguém atrapalhasse, estava tudo
resolvido, era só o Bolsonaro não atrapalhar, o Bolsonaro começou a ofender o
Dória e ele começou a se recolher, se for pegar como parâmetro, os governadores
do Nordeste foram muito mais valentes em enfrentar o discurso do Bolsonaro',
pontua.
Assista a entrevista na íntegra:
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