Perito particular diz que não há sinais externos de tortura no corpo de Adriano da Nóbrega

Perícia foi solicitada pela família. Resultado não é conclusivo, segundo ele. Polícia Civil e MP também realizaram necropsia no corpo de miliciano morto há 11 dias, na Bahia; órgãos ainda não divulgaram resultado.

Foto: Divulga��o

Um perito particular contratado pela família disse que, a princípio, não há indícios externos de tortura no corpo do miliciano Adriano da Nóbrega. Ele passou por uma nova necropsia na tarde desta quinta-feira (20) no Instituto Médico Legal do Rio (IML).

O perito Talvane de Moraes disse que a análise, que durou cerca de quatro horas e meia, não é conclusiva. O material foi coletado para exames laboratoriais.

Também observou que o corpo estava embalsamado, o que altera as condições para o exame. Na quarta-feira, o IML do RJ informou à Justiça que corpo do miliciano Adriano estava apodrecendo.

O perito esteve no IML contratado pela família de Adriano. Peritos da Polícia Civil do Rio e do Ministério Público do Rio de Janeiro também realizaram a nova necropsia, pedida pelo Ministério Público da Bahia. Até a última atualização desta reportagem, ambos os órgãos não haviam informado o resultado da necropsia.

Na manhã de terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro também tinha pedido a realização de uma perícia independente da morte do miliciano.

Acusado de envolvimento com a milícia e de chefia um grupo de matadores no Rio, o ex-capitão da PM do Rio foi morto na madrugada de 9 de fevereiro em Esplanada, na Bahia. Ele estava foragido havia um ano e foi baleado por policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) baiano durante um cerco.

O corpo de Adriano já havia passado por necrópsia no IML da Bahia. O segundo exame foi um pedido do Ministério Público baiano, acatado pela Justiça do estado.

MP pediu à Justiça que o Departamento de Perícia Técnica (DPT) do IML apure:

a direção que os projéteis percorreram no corpo;
o calibre das armas usadas nos disparos;
a distância entre os atiradores e Adriano;
e outras informações que considerem relevantes.

O senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República, chegou a divulgar um vídeo de uma suposta perícia.

Na postagem, junto ao vídeo, o senador do Rio de Janeiro escreveu: "Perícia da Bahia (do governo PT) diz não ser possível afirmar se Adriano foi torturado. Foram 7 costelas quebradas, coronhada na cabeça, queimadura com ferro quente no peito, dois tiros à queima-roupa (um na garganta de baixo para cima e outro no tórax, que perfurou coração e pulmões)".

Em entrevista para jornalistas na quarta-feira, na saída de uma reunião no Senado, em Brasília, Rui Costa questionou a veracidade do vídeo.

"Como é que vou periciar um vídeo que circula na internet? Posso lhe garantir que aquilo não é nem do IML da Bahia, nem do IML do Rio. Imagens hoje, vocês que são de comunicação, editam do jeito que quiserem. Mas não são imagens dele [Adriano]. As imagens do corpo tem uma saída de bala nas costas e as costas [mostradas no vídeo] estão lisas", disse.

No semana passada, a Justiça do Rio proibiu a cremação do corpo do miliciano. O pedido de cremação havia sido feito pela família do ex-policial. O corpo chegou ao Rio no último domingo.

Em um documento enviado pelo IML do Rio à Justiça fluminense, a perita Luciana Lima afirma que o corpo não está em boas condições de conservação e que o IML não possui câmaras de congelamento.

O MP do Rio também vai analisar documentos e uma agenda encontrados pelos policiais baianos.

Em mais de uma oportunidade, o então deputado estadual Flávio Bolsonaro prestou homenagens a Adriano.

Em 2005, o parlamentar, via Assembleia Legislativa (Alerj), concedeu a Medalha Tiradentes ao então capitão da PM – a maior honraria da Alerj.

Na época, Adriano estava preso acusado de matar um guardador de carros que havia denunciado uma milícia um dia antes de ser assassinado.

Dois anos antes, em 2003, Flávio havia homenageado Adriano com uma moção de louvor. Dias depois, o ex-capitão foi preso sob a acusação de homicídio, tortura e extorsão.

Em entrevista ao jornal O Globo publicada nesta quinta, o vereador do Rio Italo Ciba (Avante), que foi companheiro de cela de Adriano, afirmou que, na época da moção, os dois foram vistados por Flávio na cadeia, mais de uma vez.


Informações G1

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