Artista Plástico afirma que museus correriam menos risco se não fossem mantidos pelo Governo

Para Jorge Galeano prédios com acervo como o do Museu Nacional do Rio de Janeiro, incendiado há 45 dias, deveriam ser fundações de iniciativa privada

Jornal Grande Bahia

O Incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro completa 45 dias nesta quinta (17), e para o artista plástico argentino radicado em Feira de Santana, Jorge Galeano, vários outros prédios brasileiros, inclusive na cidade, correm sério risco por causa da situação de abandono em que se encontram.

“A situação geral dos Museus e edifícios antigos em toda a América Latina se diferem da condição na Europa, onde todos os recintos e parques são pagos. Não são responsabilidade do Estado, são como se fossem organizações particulares porque é muito oneroso para um governo manter tantos órgãos que são caros”, aponta Galeano. Para o artista, é melhor que estabelecimento como o Museu Nacional que foi incendiado sejam deixados como fundações particulares que cobram ingresso e se auto sustentam.

“Há muita coisa que o país deve melhorar antes de investir em cultura” defende Galeno ao constatar que as pessoas passam fome, sofrem com desemprego e falta de educação. “Por enquanto, como somos um país muito jovem, tem coisas imediatas para resolver antes de gastar R$ 30 ou R$ 40 milhões para restaurar um museu”, considera. Para ele, o governo não tem como controlar a situação porque sofre também com a corrupção na disposição de recursos bem intencionados.

“Foi queimado [no Museu Nacional do Rio] um acervo histórico valiosíssimo para o mundo inteiro, com espécies exclusivas”, pesou o artista. “Se [o Museu Nacional] fosse como o Metropolitan de Nova York... Não é do Estado, é uma fundação dos magnatas da cidade e eles ganham com isso, é como se fosse um negócio, aí nunca vai pegar fogo e se pegar, está tudo assegurado”, compara o artista plástico.

CENÁRIO LOCAL

Jorge Galeano, que expôs em setembro obras de arte nas instalações recentemente restauradas do Museu Regional de Arte| Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca) da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), fala que no local falta algumas restaurações simples que só podem ser realizadas pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC). “Às vezes falta três quatro telhas que não podemos colocar por ser um órgão tombado pelo governo e não se pode trocar nem uma fechadura. Aqui cai muita água, eu queria consertar do meu bolso, mas não pode porque tem uma lei específica que impede intervir em um patrimônio público”, exemplificou.

O artista plástico considera que Feira de Santana tem muitos espaços para exposição e muitos novos artistas ocupando novos espaços, no entanto, aponta o risco de ambientes como a abóbada do Centro de Cultura Amélio Amorim que “pode cair a qualquer momento” na espera de uma intervenção. “Se os artistas tivessem tomado conta daquilo, feito um ateliê coletivo, eles mesmos poderiam ter restaurado aquela obra fantástica que não é tombada e daria para reparar”, observa.

Galeano aponta que uma das funções dos artistas é denunciar e outra é retratar os acontecimentos públicos e contemporâneos. “No meu caso, tento manter o lugar onde estou, lugar histórico e trabalhar em paz, fazer alguma coisa para o futuro, ensinar novos artistas e estudantes”, defende. “Desde que estou aqui já vi mais de 8 edifícios antigos serem destruídos na Conselheiro Fraco, para nada, porque se as pessoas fossem minimamente inteligentes, deixavam a fachada do prédio e dentro restaurava, fazia um shopping se quisesse. Você não vai para Europa para ver edifícios novos. Então seria uma cidade com aparência antiga que movimentaria o turismo e continuaria com lojas dos comerciantes. Mas eles destruíram a fachada, colocaram um plástico horrível. Isso é falta de cultura, não é nem maldade, é idiotice, não tem outra palavra”, discorre.

Para Galeano, Feira de Santana inteira sofre com o abandono perceptível nas calçadas, exposição do lixo, desorganização do comércio. Compara a condição ao caos que pode ser presenciado também em cidades como São Paulo que aponta parecer não ter lei ou ninguém se importar.

Informações de Fernando Moreira

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