Luís Alexandre de Oliveira Lessa, 20, está preso preventivamente (sem prazo) em Salvador desde novembro de 2024, denunciado sob acusação de crimes digitais, como estupro virtual, incentivo a automutilação, comercialização de imagens de pedofilia, cyberbullying, stalking e violência psicológica contra mulher.
O caso foi divulgado pelo UOL e confirmado pela Folha de S.Paulo. De acordo com um inquérito a que a reportagem teve acesso, o Ministério Público de São Paulo descreve que Luís era conhecido em fóruns online pelos apelidos de “Sagaz” ou “Hitler da Bahia”.
Segundo investigação, em uma das postagens feitas ele diz: “Você acha mesmo que, logo eu, o Hitler da Bahia, vou ligar?”. Em outra mensagem, ele se refere a meninas menores de 18 anos como “ninfetinhas”: “Já estava com saudades disso aqui, de mostrar para essas ninfetinhas quem continua mandando”, escreveu ele.
Na época, Lessa era soldado recruta e exibia nas comunidades as fardas e as fotos no Exército.
Em nota, o Exército Brasileiro afirma que ele prestava serviço militar desde o início de 2024. Durante esse período, sofreu diversas punições disciplinares e foi excluído do serviço ativo em janeiro de 2025 -o processo a que responde criminalmente é independente da atuação no serviço militar.
Os crimes foram descobertos pelo Noad (Núcleo de Observação de Análise Digital), da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, e culminou na Operação Nix, que aconteceu em São Paulo, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais e Distrito Federal.
Na investigação, Luís foi apontado como um dos líderes de uma comunidade de ódio em plataformas como Discord e Telegram. Em nota, a defesa dele nega as acusações e afirma que ele tem demonstrado plena disposição para colaborar com as autoridades competentes.
Também diz acreditar “que todos os fatos serão devidamente esclarecidos e que a verdade prevalecerá” e que as alegações “serão oportunamente refutadas ao longo do processo, com base em elementos fáticos e jurídicos concretos, os quais demonstrarão a inconsistência das acusações que lhe foram dirigidas”.
De acordo com a investigação, Luís integrava uma comunidade chamada Country, que tinha ao menos outros três líderes e mais de 600 membros.
Como os outros comandantes da comunidade são menores de 18 anos, foi instalado um procedimento na Vara da Infância e Juventude para apuração de atos infracionais e internação provisória. Além disso, o pai de um deles foi preso porque era por meio das contas bancárias dele que o filho recebia o dinheiro da venda de fotos de pedofilia.
Procurado, o Discord afirmou que as ações de grupos como o Country não têm espaço no Discord nem na sociedade. “Sobre o incidente relatado pela Secretaria de Segurança Pública, o Discord conduziu uma investigação interna aprofundada e continua firmemente comprometido em aprimorar seus processos internos”, diz a plataforma. O Telegram não respondeu até a publicação desta reportagem.
A investigação mostra que entre os líderes havia uma organização clara com estrutura ordenada e divisão de tarefas com objetivo de obter tanto vantagens financeiras como poder no ambiente virtual. Eles mantinham um grupo central, mas havia outros paralelos em que combinavam os ataques.
A Promotoria também aponta que Lessa comandou um ataque em massa contra uma adolescente de 16 anos e membros de sua família. Para isso, ele encaminhava os dados de telefone de parentes e amigos da jovem no grupo, descrevia quem era cada um e orquestrava o ataque, que envolvia centenas de ligações e mensagens perturbadoras.
O grupo é classificado como uma panela. Como a Folha de S.Paulo mostrou em março, essa nomenclatura é usada para comunidade em que são realizadas crimes digitais.
Normalmente, membros começam namoros online com meninas e pedem nudes para elas. Quando migram para as comunidades, passam a expô-las ao vivo. Depois, eles começam a fazer chantagem, dizendo que se elas se recusarem a fazer algo, vão contar a seus pais ou expor suas imagens nas redes sociais.
Nesses casos, o grupo de investigadores também observa que as vítimas são alvo de agressões escalonadas. Fazer a menina cortar o cabelo, tomar água da privada ou se automutilar são exemplos desse tipo de violência.
Além destes crimes, é comum que as fotos coletadas sejam revendidas. Entre as comunidades que são investigadas pelo núcleo da polícia paulista, há algumas que possuam cerca de 100 mil seguidores espalhados pelo mundo.