CANUDOS EM CORDEL - VI

Foto: Divulgação

O Conselheiro montou
Em seu cansado alazão
E com seus seguidores
Rumaram para o sertão,
À frente seguia uma cruz,
Davam vivas ao Bom Jesus
Com guias de imposto no chão.

Pediram providências
Ao governador da Bahia
Dizendo que o Conselheiro
Fizera grande anarquia.
E oficiais aposentados
Foram com alguns soldados
Combater a rebeldia.

Alcançaram os penitentes
A cinco léguas de Tucano
Na Fazenda Maceté,
E num ato desumano
Mataram mulher e criança.
Foi uma covarde vingança
Que fizeram naquele ano.

Esse povo ignorante
Que seguia o Conselheiro
Era fanático e inocente
Mas não era desordeiro,
Mas os que foram na pista
Soldados ficaram à vista
Baleados no tabuleiro.

Dessa triste retirada
Em rumo para o sertão
Todos com fome e sede
Mas contritos em oração
Morrer, sofrer e rezar
Poderiam ressuscitar
Com rei Dom Sebastião.

Agruparam-se em Canudos
Começando a construção
Da nova Jerusalém
Da cova de Salomão.
Batizaram Belos Montes
Por ter água nas fontes
E viam no rio, o Jordão.

Espalharam a notícia
Pelos estados do norte
Chamando o povo de Israel
Fosse fraco ou fosse forte
“Estão chegando os dias
Falados nas profecias
Pra julgar vivos e mortos”.

Espalharam os boatos
Por todo aquele sertão
Que em Belo Monte estava
O rei Dom Sebastião,
Dos montes jorrava azeite
A água do rio era leite
As pedras viravam pão.

O doutor José Gonçalves
Governador da Bahia
O primeiro da República
Depois da monarquia
Ia enviar praças de linha
Desembarcando em Serrinha
E acabar com a anarquia.

Mas, o coronel Zé Leitão
Chefe de Santa Luzia
Foi falar com Zé Gonçalves
Governador da Bahia
Disse ser ele ordeiro
Pediu pelo Conselheiro
Que força não seguiria.

No ano de noventa e três
Os crentes do Conselheiro
E no ano de quatro e cinco
Construíram muito ligeiro
Mais de cinco mil residências
Dois templos de penitências
E povoaram todo o outeiro.

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