FEIRA QUE VIVI - VII

Foto: Divulgação

​A independência do Brasil e o nascimento de Feira de Santana são momentos coevos em nossa história, coincidentes com a movimentação de gado das províncias distantes, e do sertão baiano, para a região.

​Esse ciclo do boi de mais de século foi responsável aqui pela formação de uma elite, constituída de proprietários rurais (pecuaristas e produtores de açúcar/cachaça), aos quais se juntaram exportadores de fumo em folha, médios comerciantes e variados agentes que deram o suporte necessário para formar e manter o tecido social (juiz, promotor, tabeliães, educadores, gerentes de bancos, profissionais liberais, etc.).

​Nos idos de 1948, ainda sendo proibida a importação de automóveis (não havia indústria automotiva no país) esses veículos eram raros. Em Feira, um Citroen, dois sedans Chevrolet e um Ford, com alguns anos de uso embora já com o design revolucionário da Studebaker (curvas na chaparia), pertenciam a três famílias ilustres, e ao gerente do Banco do Brasil.

​Automóveis novos, os 'cotias', somente nas capitais (trazidos por barcos e deixados em praias desertas, sem algumas peças vitais; denunciados os 'achados' à Receita Federal, eram apreendidos e arrematados por pessoas interessadas nos leilões, pois já dispunham das peças faltantes... O famoso jeitinho brasileiro. Era como possuir hoje uma Lamborghini.

​Intensa na cidade a circulação dos caminhões Chevrolet, GMC e Ford, os 'paus de arara', cujas boleias eram cortadas transversalmente, ficando a parte dianteira (original) com o painel e o para-brisa, e a traseira com cobertura e encosto de madeira, a fim de ser ampliado o banco para comportar mais passageiros (retirantes e crianças). O trânsito pela Transnordestina (BR 116) cresceu com a presença por volta de 50, dos caminhões nacionais FNM (Fenemê), todos na ligação Nordeste/Sul.

​Com o asfaltamento da BR 324 (Salvador/Capim Grosso) e as melhorias introduzidas na estrada BR 116, Feira acelerou seu ciclo de expansão comercial e urbana com a chegada de comerciantes nordestinos que foram ocupando os espaços do centro e fazendo a urbe se expandir para todos os lados, abrindo-se ruas e avenidas com imóveis para residências. Mansões de ricaços como as da esquina da Praça Bernardinho Bahia com Sr. dos Passos; da esquina da Barão do Rio Branco com Getúlio Vargas; as da Marechal e da Senhor dos Passos foram demolidas e surgiram atacadistas, grandes lojas, outros bancos, galerias e supermercado. Restou a residência da Praça Fróes da Mota patrimônio de beleza e da pujança de uma singular aristocracia rural.

​A partir de 60, com JK, Celso Furtado e SUDENE foi iniciado o ciclo da implantação de indústrias e o fortalecimento da economia de Feira, que integrou o município no esforço nacional do desenvolvimento e consolidou sua posição de maior e mais próspera cidade do interior da Bahia, não obstante os incertos tempos políticos que estavam por vir, com a divisão ideológica do mundo na chamada guerra fria.


Por: Pedro Cleto

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