SOBE A VINHETA

"Interrompemos a nossa programação para um comunicado importante."

http://www.surrealista.com.br/2016/05/as-10-melhores-reacoes-ao-plantao-da-globo-desta-noite-um-misto-de-panico-e-frustracao/

Antes de começar a ler este texto, por favor, tente se recordar de algo que não tenha o mínimo de programação para acontecer. Ok, já que já começou a leitura, não precisa interromper mais. Deixe para qualquer eventual pausa inesperada. Com isso, quero dizer, que a grande exceção de “não precisar se programar” é o acaso. Isso vale para sua rotina, sua leitura, e para o tanque do carro entrando na reserva.

Não que todas as programações sejam verdades absolutas, como: a morte, Pelé maior da história, e feijoada melhor que dobradinha. Não. Muita coisa é ponto de vista. Muito pode ser transferido, jogado para o lado, ajustado, inserido, e dar espaço ao acaso. A morte, em alguns casos, com as lembranças. O Pelé, com o Messi. Já a feijoada, bom, abre-se uma exceção para as exceções.

Minha semana é meio corrida, e, para lidar com ela, faço minha programação, e ajusto – ou tento – através de um gerenciador de tarefas. Quem costuma ler meus textos, consegue perceber um pouco de dislexia e esquecimento recorrentes. Já foi reflexo no Wordpress, e chegaria o momento de ser reflexo aqui. Preocupante é saber que foi cedo demais.

Eu sei que, às quartas-feiras, devo postar uma crônica aqui. Ou seja, na terça, já devo tê-la pronta. Como um Plantão (sobe a vinheta), cortando o meio de um episódio qualquer de Malhação, minha programação foi atrapalhada por uma urgência: trabalho da faculdade. Deixei minha crônica, que era para ser feita ontem, para hoje. Às pressas, em cima da hora. Agarrado com os segundos. Negociando com o deadline. A preocupação fez-se minha principal inimiga.

Durante o banho, busquei assuntos para escrever, nenhum pareceu muito interessante. Não queria falar sobre política, queria uma crônica light: sem mortadelas ou coxinhas. Não quis falar sobre futebol, o Atlético perdeu no domingo, e, já eliminado da Libertadores há tempos. Só iria me fazer xingar comissão e diretoria. Por sinal, diretoria do Galo: vai tomar no cu – eu precisava fazer isso. Termino o banho, me enxugo, e todas as palavras secam junto. Continuo sem assunto.

Olho as roupas encima da cadeira, e, antes me vestir, penso: “bagunça é uma opção”. Também não. Ia me perder entre minhas blusas jogadas pelo meu quarto, e minhas ideias espalhadas por aí. Preocupado e sem assunto, vou tomar meu café.

Ainda procurando, abro a geladeira, pego o leite. Vou ao armário, pego o Toddy – espaço para merchandising. Abro a gaveta, pego um garfo. Você, leitor inteligente, deve sacar que leite, achocolatado e garfo soam meio estranhos juntos, né? Ainda bem. Salvo pelo gongo, percebo: preocupado, sem assunto e fora da programação, que me passei e não peguei a colher, e sim, o garfo. Achei. Eureka. É isso. Tem um cunho de ansiedade nesse garfo – que era pra ser uma colher.

Já que começou a ler, espero que tenha chegado até aqui. Se chegou: parabéns e desculpa, não queria que isso tudo terminasse com uma ligação entre um garfo errado e a ansiedade. Assim como os trágicos plantões (sobe a vinheta) no meio de um episódio qualquer de Malhação, interrompemos a programação para um alerta urgente: ansiedade é algo sério, e deve ser levada como tal. Não espero que tal drama volte a acontecer.

“Estamos trabalhando para melhor te atender. Voltemos à programação normal.” (Sobe a vinheta).


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