Embora sejam adversários, protagonistas da corrida eleitoral dos Estados Unidos e até tenham ocupado postos nos dois últimos governos do país, Donald Trump e Kamala Harris nunca estiveram frente a frente.
O primeiro encontro entre o republicano e a democrata acontecerá nesta terça-feira (10), quando os dois se enfrentarão em um debate —também inédito— e que pode ser decisivo para o resultado das eleições presidenciais do país, em 5 de novembro.
Segundo especialistas, o cara a cara entre os dois candidatos, que acontece às 21h no horário local (22h pelo horário de Brasília), deve ocorrer sem grandes riscos de ambos os lados, por conta da disputa apertada entre os dois —que aparecem em empate técnico nas últimas pesquisas de intenção de voto (leia mais abaixo).
Mas também pode trazer novidades: será a primeira oportunidade de Kamala Harris, que entrou na corrida eleitoral apenas em julho, quando o presidente Joe Biden desistiu da disputa, fazer frente às constantes críticas dos republicanos.
Além de questões relacionadas à sua raça e origem levantadas por Donald Trump, ela vem sendo criticada pelos republicanos por evitar entrevistas e só falar em comícios e com discursos ensaiados.
A expectativa é que Kamala não foque sua narrativa nas questões de raça e gênero e use habilidades oratórias que conquistou durante sua carreira de procuradora-geral da Califórnia, cargo que ela conquistou através do voto público. E que explore ao máximo o discurso de que governará para a classe média, como fez quando era procuradora —além de investir em ataques a Trump.
Ainda assim, a vice-presidente democrata passou o fim de semana reclusa em intenso treinamento com especialistas em debates.
Segundo a agência de notícias Associated Press, ela praticou respostas rápidas e em tom mais agressivo para fazer frente às características do debate: os dois candidatos só poderão entrar no estúdio da ABC News, emissora que organiza o enfrentamento, com uma caneta, papeis em branco e água.
Como no primeiro debate das eleições, entre Donald Trump e Joe Biden, em junho, não haverá nenhuma comunicação entre os candidatos e sua equipe —que estará fora do estúdio.
Além de ser uma prova de fogo para a candidata democrata estreante, o debate também pode ser a oportunidade de espantar o fantasma que assombra os democratas desde o enfrentamento entre Trump e Biden.
Na ocasião, o atual presidente norte-americano, também sem anotações prévias ou comunicação com sua equipe, teve um desempenho muito ruim: confundiu temas, mostrou-se apático e deu o pontapé para uma enxurrada de pedidos para que desistisse da corrida eleitoral, o que ele acabou fazendo cerca de um mês depois.
Já Trump, experiente em debates e em oratória, disse que não se preparou para o enfrentamento e escolheu passar os últimos dias fazendo campanha nos chamados estados-chave, nos quais o apoio para um partido ou outro variam de acordo com as eleições.
Esse foi o principal motivo, inclusive, para que o local do debate fosse definido: o enfrentamento ocorrerá na Filadélfia, cidade na Pensilvânia, um dos estados onde o voto ainda não está definido. Nas duas últimas eleições, o partido apoiado pela maioria dos eleitores de lá foi o vencedor.
Por isso, embora historicamente os debates presidenciais dos EUA não tendem a se reverter em votos para um ou outro lado, a expectativa é que o enfrentamento desta terça rompa com essa lógica e se torne uma das peças decisivas do quebra-cabeça eleitoral dos EUA.
Como os dois candidatos aparecem em empate técnico nas últimas pesquisas de intenção de voto, o desempenho de cada um e até um desempenho mais fraco em apenas uma resposta pode definir os rumos do pleito.
O analista de mídia da Universidade de Maryland, Mark Feldstein, disse à agência de notícias AFP achar que, nessa equação, Kamala Harris correr mais riscos.
“Os riscos são maiores para Harris do que para Trump, porque ele já é muito conhecido, enquanto ela ainda precisa explicar quem é para a maioria das pessoas”, disse Feldstein.
Ainda assim, o analista político dos EUA Joshua Zive prevê que nem Trump nem Kamala devem se arriscar e tentar orbitar temas familiares a cada um —temas como imigração ilegal e alertas de uma “ameaça comunista”, no caso de Trump, e taxação a grandes empresas e ataques à gestão do ex-presidente republicano, no caso de Kamala.
“Nenhum dos dois têm motivos para correr grandes riscos”, disse Zive. Ele disse achar que, como as pesquisas estão tão apertadas, o pleito pode ser decidido por alguns milhares de votos.
Informações G1