Paciente de traumatismo que se recoloca na sociedade através das artes pretende lançar livro

Nosso ator Adenilton Fernandez faz boxe, pintura, desenho e apresenta peça de teatro além do tratamento terapêutico intensivo

Arquivo pessoal

Adenilto do Carmo Fernandez, 37 anos, conhecido como "nosso ator Adenilton Fernandez" em Feira de Santana, sua cidade natal, foi diagnosticado com traumatismo craniano encefálico (TCE) há 10 anos.

Com o condicionamento neurológico e motor prejudicado, Adenilto é um exemplo de superação que faz tratamento terapêutico rigoroso, treina de boxe e se comunica através da escrita e dos desenhos, embora já consiga falar algumas palavras com dificuldade. Para ativar a mente, ele encontrou no estudo do teatro e da pintura, na gravação de vídeos para internet e na escrita de uma autobiografia a maneira de voltar a ocupa seu lugar na sociedade.

ACIDENTE

No dia 30 de abril de 2008, Adenilto tinha dormido em Feira de Santana, na casa de uma amiga que considera segunda mãe, quando foi alertado por ela que algo ruim iria acontecer.  Na quinta, 01 de maio, ainda receoso com o aviso, Adenilton não queria sair de moto, mas utilizou o veículo com propósito de visitar uma ex-colega de trabalho que havia perdido a irmã. 

Após sair com amigos a caminho do distrito de Matinha, ele lembra apenas de acordar no hospital 30 dias depois. Foi diagnosticado com traumatismo craniano encefálico (TCE), tendo tido perda de massa encefálica, hemorragia grave e sequela neurológica e motora. Traqueostomizado, apresentou estenose traqueal e ficou 21 dias na UTI sem esperança de vida. Adenilto conta ter sido desenganado várias vezes e ter passado dois meses na enfermaria do hospital.

Recebeu alta sem andar e relata ter criado seu próprio tratamento terapêutico. “Meu caso era grave e nenhum profissional queria se arriscar, além disso, os relatórios me condenavam a morte”, explica o paciente que alcança melhora no condicionamento da parte motora.

VÍDEOS

O ator tem um canal no Youtube  para divulgar o tratamento e, de sua autoria, o “Paciente de  t.c.e e  o  processo de reabilitação ”, primeiro vídeo em que a condição do paciente TCE é transmitida em primeira pessoa. “Esse vídeo mostrar todo meu tratamento terapêutico, acompanhamento com médico, estudo para ativar a mente, o treino de boxe  - porque os murros dado no saco de pancada conectam  a parte que  teve rompimento de ligações cerebrais -,  e o teatro para  eu voltar ocupa meu lugar na  sociedade”, sintetiza.

LIVRO

Além disso, Adenilto tem um livro autobiográfico em revisão, com previsão de entrega neste mês de outubro. A partir daí, pretende registrar na Biblioteca Nacional e procurar patrocínio de uma editora que publique a obra. Garante que a obra servirá de exemplo, uma vez que relatará para o mundo como venceu o traumatismo e se recuperou da perda de massa encefálica. “O livro pode servir para várias pessoas, mostrando minha história de luta, garra, exemplo, incentivo e autoconhecimento para  várias pessoas que se  encontram em uma situação indesejada  como  a minha”, declara.

Na obra, promete ainda agradecer a cada pessoa o ajudou na reabilitação. “Como eu não tenho dinheiro  para  pagar  essas pessoas  que mim  ajudaram, essa autobiografia  é  como uma  gratidão e  um reconhecimento porque se  não fosse  essas  pessoas, hoje  eu  estaria morto”, diz. Aposentado por invalidez, o dinheiro que recebe se destina a pagar o tratamento  terapêutico e alimentação. Ainda assim ajudar a mãe, quando precisa.

Alguns desenhos desenvolvidos a partir de um curso de aprimoramento dos conhecimentos, no Cuca, estarão no livro. Adenilto considera o desenho uma forma de se comunicar com as pessoas que não compreendem sua fala ou não sabem ler.

TEATRO E PINTURA

No final de 2014, Adenilton começou a cursar teatro a fim de vencer a timidez. Depois primeira atuação no palco, afirma ter descoberto que não era tímido e encontrado no teatro uma terapia.  No início de 2018, estava de volta a oficina de teatro no Cuca e apresentou, em julho, a peça “morte”, conduzida pelo professor Kadu Fragoso.  Agora está afastado dos estudos porque não dava para adequar os horários com o tratamento terapêutico.

No entanto, se dedica a pintura em tela com orientação da professora Cida Porto, no Cuca, tendo exposição pretensa para o final do ano. O artista costuma fazer suas divulgações através das redes sociais onde é encontrado como “nosso ator Adenilton Fernandez”.

CIRURGIA

Embora esteja apontando excelente recuperação do quadro grave de saúde pelo qual foi acometido, Adenilto aposta na cirurgia da  A.T.M  e Ortomagnática  para conectar a articulação do maxilar, uma vez que acredita ser essa a razão da dificuldade de recuperar totalmente a fala. “Acho que não estou falando correto devido a esse deslocamento da queixada  inferior, porque  ela foi para  baixo e para trás, deixando  a  base de  língua  presa, como uma  bucha que veda a passagem  de  alimento e dificulta a deglutição e a fala”, explicou.

Adenilton fala sobre a necessidade de divulgação da sua história de superação, não só para conseguir patrocínio para lançamento do livro, mas também para que as pessoas entendam que ele ficou assim após um acidente e parem de desprezá-lo. “Tem pessoas que acham que eu sou doido, surdo, mudo, acabam comparando  a  inteligência  delas  com  a  minha  e fazendo  comentário  sem noção na  minha  frente. Eu estou lutando  para vira  o  jogo, eu era normal e fiquei com essa  deficiência física, perdendo tudo que eu tinha  conquistado, principalmente o espaço”, defende.

“Para muita gente, o deficiente é  invalido  e  tem  de  ficar  no  seu  canto,  não  fazer  nada. Mas  eu  quero  virar  o  jogo  com  minha  autobiografia”, declara Adenilto em busca do patrocinador da obra.


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