Como fazer a segunda-feira ser tão boa quanto a sexta-feira? Mario Sérgio Cortella dá dicas

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Filósofo, professor, pensador e escritor. Dono de uma página no Facebook com mais de um milhão de curtidas e conhecido por abordar questões sociais ligadas à filosofia na sociedade contemporânea, Mario Sérgio Cortella esteve em Cuiabá na sexta-feira (04), oportunidade em que falou sobre felicidade, desejo, moral, desafetos e até mesmo sobre a funkeira Valesca Popozuda.

Confira as cinco perguntas que Cortella respondeu para o LIVRE:

LIVRE – Como fazer a segunda-feira ser tão boa quanto a sexta-feira?

Mario Sérgio Cortella – Há dois raciocínios: um de natureza lógica, uma vez que a segunda-feira é o dia mais longe de outra segunda-feira, portanto pode raciocinar que está mais feliz por uma questão meramente matemática.

Outra forma é imaginar que sai de casa para uma atividade de trabalho com um propósito e não apenas por uma obrigação. É também uma obrigação, mas não exclusivamente isso. Se for apenas por obrigação, terá vários momentos de chateação, de tristeza. É necessário prestar atenção se toda segunda-feira vem seguida da frase: um dia vou fazer o que eu gosto. Essa frase é amargurante. Se pensa assim, que tal começar a planejar para fazê-lo ao invés de colocar como lamentação.

As segundas-feiras são para nós a lembrança de algo que se reinicia, mas não é assim para todo mundo e em todas as profissões. Essa é uma ideia relativa. A grande pergunta é: por que fazemos o que fazemos?

LIVRE – Por que o brasileiro prefere passar em concurso público a empreender?

Mario Sérgio Cortella – Porque uma pessoa que não deseja estabilidade está com algum tipo de perturbação. Saber que tem a possibilidade de ter estabilidade no trabalho, ter clareza de que poderá ficar numa atividade que dará maior segurança e não procurar por isso seria tolo.

A questão é que algumas pessoas não querem essa segurança e a humanidade caminha a partir da impulsividade daqueles que não querem. Se a vida fosse marcada somente por pessoas que querem fazer concurso que a elas dê estabilidade, seria muito morna. Ainda bem que existem aqueles que querem estabilidade, é sinal de sanidade mental, assim como que tem alguns que tem, não querendo a estabilidade, tem a capacidade de fazer mudar, avançar, criar. A criatividade, a inovação, vêm sempre de uma inconformidade.

Não pode ser todo mundo empreendedor, pois assim não haverá consumidor. É preciso que uns tenham a capacidade de empreender e outros queiram fazer concurso público.

LIVRE – Furar fila e sinal vermelho é tão grave quanto desviar recurso público?

Mario Sérgio Cortella – As duas coisas são desvios. O que vai adensar um ou outro é o efeito que produz. Ultrapassar sinal vermelho tem um efeito menos malévolo do que, por exemplo, desvio de recurso. Mas a gente não avalia um ato ético pelo seu efeito e sim pela causa e a causa, em ambas as situações, é exatamente a crença de aquilo é um direito dela, que ela pode ser indecente e que isso não tem problema.

A legislação estabelece uma diversidade de agravamentos de pena em relação ao tipo da causa, há mais intensidade em relação aos efeitos, mas aquele que leva R$ 10 reais e aquele que leva R$ 1 milhão é indecente do mesmo modo.

A lei vai estabelecer alguns atenuantes e alguns agravantes, mas não se avalia alguém pelo número de facadas que dá no outro, mas pelo dano que produziu.

LIVRE – Olavo de Carvalho é maior filósofo brasileiro vivo? Por que?

Mario Sérgio Cortella – Não sei porque nunca o li. Eu o entrevistei no programa de televisão que tive, chamado Diálogos Impertinentes, foi uma ótima conversa, mas eu não tenho capacidade de avalia-lo. Talvez ele tenha me lido, porque um dia ele disse que sou um analfabeto funcional, mas eu não tenho condição de dizer nada porque não fiz nenhum estudo sobre as obras que ele produziu. Exceto por esse contato no programa de TV, extremamente denso, onde abordamos moral, não tenho outra leitura e não tenho o hábito de avaliar pessoas sem conhecê-las bem.

LIVRE – Trazer Valesca Popozuda como grande pensadora contemporânea é uma boa forma de trabalhar filosofia nas escolas?

Mario Sérgio Cortella – Eventualmente esse foi um ponto de partida do professor que utilizou a cantora como provocação em uma prova de filosofia e não de chegada. Muitos criticaram, mas ter a cantora como referência da má filosofia é arrogante, é supor que sabe qual é a boa filosofia.

Se eu coloco como ponto de chegada, é uma fratura no processo de formação, mas como ponto de partida eu acho uma provocação extremamente adequada e não fiquei negativamente admirado.

Não se deve fazer isso sempre, mas como forma de criar uma ponte com as crianças e os jovens, de estimular o olhar para a filosofia, não tenho dúvida.

Fonte: LIVRE

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