Idoso e dois filhos soterrados após desabamento de casarão são enterrados em Salvador

Tragédia aconteceu na noite de segunda-feira (24), na Ladeira da Soledade, região histórica da capital baiana

O idoso José Prospero Deminco, de 73 anos, e os filhos dele, Ana Paula Carreiro Deminco, de 34, e Paulo Ricardo Carneiro Deminco, de 44, soterrados após o desabamento de um casarão, na Ladeira da Soledade, em Salvador, foram enterrados na tarde desta terça-feira (25), um dia depois da tragédia.
A cerimônia foi realizada no Cemitério Campo Santo, no bairro da Federação, na capital baiana. Dezenas de familiares e amigos das vítimas compareceram ao enterro para prestar as últimas homenagens. A família não quis falar com a imprensa.
A tragédia aconteceu na noite de segunda-feira (24). A casa em que as três vítimas estavam foi atingida pelos escombros de um casarão que desabou. José e os filhos não conseguiram sair a tempo e morreram nos escombros.
Além do idoso e dos dois filhos mortos, outra filha dele, identificada como Simone Deminco, e o filho dela, um adolescente de 13 anos, também estavam na casa. Eles foram retirados de dentro do imóvel por vizinhos, que se mobilizaram logo após o desabamento. Os dois foram levados para o Hospital Geral do Estado (HGE) e receberam alta na manhã desta terça-feira.
Um vídeo gravado por vizinhos mostra o momento em que Simone e o filho foram resgatados após o desabamento. Nas imagens, também é possível ouvir os gritos de desespero dos vizinhos, preocupados com a tragédia.

Medo
Após a morte de parte da família, os moradores da Ladeira da Soledade temem que novos desabamentos ocorram, já que existem outros casarões antigos na localidade. O G1 esteve no local nesta terça-feira e conversou com alguns deles.
Moradora de uma casa na ladeira há 30 anos, Josefa Carvalho de Oliveira vive preocupada com o risco de outro casarão, vizinho da casa onde vive, desabar mais uma vez. O local já sofreu desabamento há seis anos, em 25 de maio de 2011, deixando um homem morto e três feridos.
"Não dão providência de nada. Minha casa tinha uma parte que era do casarão e agora eu só fiquei com uma sala. A gente fica preocupado quando vê essa tragédia", reclama Josefa. Ela conta que tem depressão e, depois que perdeu parte da casa, o quadro de saúde piorou. "Depois disso, acelerou a depressão e deu uma tristeza maior", relembrou.
A filha dela, Priscila Santiago, mora em um outro imóvel construído em cima da casa da mãe e também teme pela vida. "Quando chove, molha muito. Eu não durmo. Eles deviam fazer uma bica porque a água desce do casarão para cá", afirmou.
O casarão que desabou em 2011 agora é só um galpão, que tem um portão na frente construído pelos próprios vizinhos. O local serve de passagem pelos moradores que têm casas nos fundos.
Segundo Priscila Santiago, o casarão que desabou na segunda-feira era propriedade de um homem que vivia em uma casa do lado direito do imóvel. Ela diz que o proprietário do sobrado teria fugido com a mulher após o desabamento, com medo de ser agredido pela população.
Também moradora da Ladeira da Soledade, Aline Caldeira, de 25 anos, diz que pretende se mudar do casarão onde mora de aluguel, também por conta do risco de desabamento. "Moro aqui há cinco anos e vou me mudar por causa do risco. Aqui tem infiltração quando chove. A água jorra e sai pela parede", aponta.
Outro casarã em frente ao imóvel que desabou na segunda-feira também teve queda da estrutura em 2011 (Foto: Juliana Almirante/G1) Outro casarã em frente ao imóvel que desabou na segunda-feira também teve queda da estrutura em 2011 (Foto: Juliana Almirante/G1)
Outro casarã em frente ao imóvel que desabou na segunda-feira também teve queda da estrutura em 2011 (Foto: Juliana Almirante/G1)
Investigação
Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), a 2º Delegacia Territorial (DT/ Lapinha) irá instaurar inquérito para apurar as causas e responsabilidades do desabamento no casarão na noite de segunda-feira. A secretaria afirma que, segundo informações preliminares, o dono do imóvel que desabou já havia sido notificado pelos órgãos competentes sobre a situação da estrutura e o risco que apresentava.
Vizinhos e sobreviventes da ocorrência serão ouvidos durante a investigação, que aguarda também laudo emitido pela equipe da Coordenação de Engenharia do Departamento de Polícia Técnica (DPT). O desabamento deixa parte a Ladeira da Soledade interditada nesta terça-feira.
O diretor da Defesa Civil em Salvador (Codesal), Gustavo Ferraz, disse houve uma tentativa de construção do telhado pelo proprietário do imóvel que desabou. "Provavelmente, houve sobrecarga e acredito que essas intervenções contribuíram para acontecer o desastre", afirmou.
Gustavo afirma que a prefeitura ainda avalia a demolição do imóvel atingido e do casarão . "O imóvel é tombado pelo IPAC (Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia) e estamos aguardando o IPAC chegar para tomar medidas em conjunto, prefeitura e IPAC, para fazer a demolição da casa verde, que foi atingida, porque a gente efetuando a demolição pode desmoronar o casarão", afirmou.
No site do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), consta uma lista de bens tombados no estado. No material, que é de acesso público, a informação divulgada é de que o Conjunto Arquitetônico da Soledade é um dos bens históricos de Salvador com garantia de proteção legal do estado. O tombamento é datado de 10 de novembro de 1981.
Em nota, o Ipac confirmou que toda a área onde ocorreu o desabamento é tombada e afirmou que só pode agir legalmente nessas áreas depois da solicitação dos donos do imóveis, o que, segund o órgão, não aconteceu no caso do prédio que caiu.
O Ipac disse, ainda, que é de responsabilidade do Estado e do município proteger e impedir a destruição e descaracterização de bens de valor histórico. O órgão destacou que não recebeu nenhum pedido da prefeitura sobre os imóveis da ladeira da soledade. A prefeitura, por sua vez, disse que, como é um bem tombado, não precisa desse pedido.
Ladeira da Soledade está interditada após desabamento, na manhã desta terça-feira (25).

Compartilhe

Deixe seu comentário